quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Storytelling

Pondo Todas as Coisas Junto

A turma do marketing de conteúdo enche páginas e mais posts, para convencer que o marketing do século passado foi enterrado pela web 2.0. Agora os mantras deram lugar ao diálogo e as emoções na iteração e todos convergem na importância do "storytelling" para transformar pessoas em "leads". Neste diapasão, vou contar uma estória no princípio do blog ligada ao seu propósito.


Em 1974, minha mãe decidiu investir (em algo que não acabava) o dinheiro que conseguira arrancar da briga judicial dura com os ex-sócios do meu pai. Segundo ela, "terra é para sempre", e foi assim que eu, com 9 anos, acabei no banco de trás de uma Variant vermelha procurando sítios a venda no município de Osório, onde a parte italiana de nossa família tinha raízes. Lembro, nesses dias ter visitado a casa do Tio Mário, como ela o chamava (hoje nome de rua), e anos depois, das deliciosas conversas com seu filho Neneco, que me falou da amazônia pela primeira vez entre cafezinhos na Padaria Central.

Olhamos uns dois ou três, até que alguém sugeriu que subíssemos a estrada do morro. Só lembro que depois de subir muito por uma estrada de terra, chegamos em um povoado pequeno, onde minha mãe, no final de uma tarde de sol, fez um senhor barbudo e aloirado parar a carroça, para lhe perguntar, pela janela do carro, que local era aquele?

- É a "Borússia" dona.

Mapa histórico da colonização da Borrússia, ocorrida, possivelmente, nos anos 40.  


Não sei o quanto, mas foi pouco tempo depois, seu Manoelão vendeu para ela o sítio onde criara gado de leite por alguns anos. Numa ponta havia os restos de uma antiga olaria, na outra o cume do morro Pelado. Não havia porteiras, só cancelas, uma tapera, uma casa velha e algumas cercas. A imissão na posse - como se diz no Incra - acho que foi numa tarde chuvosa, quando meu irmão, minha mãe e eu fizemos um churrasco improvisado na tapera, que depois acostumamos a chamar de Casa do Chico. 

Voltaremos neste tempo quando for necessário, importa é saber que nossas vidas acabaram se ligando a este local de diversas maneiras, e ora como benção, ora como maldição, ele nos foi esculpindo o futuro.

Não sei o porquê, mas a força dele em mim foi determinante; da adolescência até a juventude preferi férias no mato em vez da praia, depois  a agronomia em vez da filosofia; até que fugi, virei agroburocrata, fui morar na Amazônia, em Brasília, e "mais" depois, velho (ou quase), me acordo de repente morando na Borrússia.

Motivos pessoais, maldição, vontade secreta, pouco importa. Vou reler 100 Anos de Solidão para ver se me dá alguma luz. Ocorre que, por ora, posso me considerar agroburocrata, sitiante acidental e (meio) alemão que insiste em pastorear ovelhas.

Como depois dos 50 a reinvenção da pessoa deixa de ser uma opção, resta a abordagem radical: por todas as coisas juntas e cotejar clareza e mistério, para enfrentar a esfinge. 

Eis um propósito! Um blog para não ser devorado.

Comunidade da Santa Rita, Borrússia, Morro Osório, Osório/RS.

Proponho que conversemos sobre a vida na Borrússia e a busca pela simplicidade, pela autossuficiência e pela sustentabilidade que ela implica. 

Nisso haverá desafios insuperáveis para um agroburocrata, então será o sitiante acidental quem terá que convidar vocês para a prosa. Pautaremos o pastoreio racional Voisin, a viticultura, a permacultura, a ovinocultura, a aquaponia, a bioconstrução, a reciclagem,  as energias renováveis, o turismo sustentável e hospitalidade, e mais o que ocorrer - como diziam no Amapá. Ajudem!

Então, quando algo tiver que ser posto em prática, será a vez do pastor alemão aproveitar para trocar experiências sobre tudo que implique nos seus ofícios: pastor, artesão, marceneiro, construtor de fogões de queima eficiente, planejador de piscinas naturais, construções com terra, mini-cabanas, ferrocimento, telhados verdes, reciclagem de pallets, materiais alternativos, trilhas, fornos de barro e tandor. 

É inesgotável, vamos nos divertir muito tentando mudar o mundo!


Eu, uma roda reciclada, biochar , cerveja, costela e salsichão da Borrússia.
Agroburocrata, sitiante acidental ou pastor alemão?
Publique-se!

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