terça-feira, 3 de setembro de 2019

Parrilla para variar

Quem sai aos seus não diz "Não te avisei!"


Quem me ensinou a assar churrasco foi minha mãe, se bem que não era churrasco propriamente, porque ela gostava mesmo de Xixo e Galeto. Nessa época, eu devia ter entre 10 e 12 anos e lembro dela virando aquele monte de espetos e alternando entre as alturas da churrasqueira, lembro mais do desgraçado do ventilador FAET, que ficava no lado do respiro e era ligado de vez em quando para aumentar o braseiro, no qual tranquei meu dedo na tomada e tomei um dos maiores choques da minha vida.

Sinceramente, acho que comecei a acompanhar sua lida nos domingos porque naquela época o coração de galinha era vendido a preço de filé e eu adorava, mas só "ajudando" tinha direito a voz - voto só bem mais tarde.... Eu também ajudava a montar os espetos, pondo o frango marinado durante a noite entre pedaços de bacon e sempre reclamando que não tinha coraçãozinho, assim aumentavam as chances no domingo seguinte. Não havia grande segredo, apenas tempero simples de sal, pimenta preta, cebola e um pouco de vinagre de vinho branco, quando tinha, sálvia fresca. Não sei se ia alho, talvez não, porque a mãe nunca gostou muito desse tempero. Seu toque especial era esfregar um tablete de margarina nos pedaços de Galeto que estavam quase prontos e os colocar perto do fogo para "pururucar".

Adorava mesmo o Xixo, que para ela era uma receita árabe, mas há  controvérsias. Bem depois, já nos anos 80, quando ela quase não se aventurava mais na churrasqueira, se íamos a uma churrascaria, ela qainda pedia Xixo, mas já era raro encontrar o fizesse, pois mundo estava dominado pelo espeto corrido de mal feito.

Vez ou outra lembro dela e em sua homenagem faço um Xixo da forma como ela gostava: espetar alternadamente pedaços de cebola, pimentão e tomate com todos os tipos de carne e linguiça cortados em pedaços quase graúdos. Não vou me estender muito nestas coisas memoráveis - como a salada de batata da minha tia, que levava quase duas horas e da qual eu também era o provador oficial - porque minha intenção aqui, é conversar sobre a Parrilla, a churrasqueira da banda oriental, mas é fato que desde essa época eu esgrimo com espetos e me defendo com grelhas assando até ovos, mas esta já seria outra estória, então, antes de entrar no tema e contar desse último projeto, vou falar um pouco de churrasco e de monotonia, os motivos pelos quais tive que assar meu bairrismo e desistir das churrasqueiras.


É devagar que se enche o papo


Primeiro o fogo. Use bastante carvão, no mínimo 3:1 em relação ao peso da carne e não coloque tudo de uma vez, claro! Eu inicio com um saco (ou meio se for pouca carne) de pé dentro da churrasqueira de pedras aqui de casa, rasgo em cima e despejo um copo de álcool dentro (não te enlouquece de usar querosene, gasolina ou dísel), aí, de longe, jogo um palito de fósforo.

Fizeste assim e nada? Tenta de novo, mas com um palito aceso desta vez, vais ver que dá uma explosãozinha e as mina pira, além de que a cachorrada se manda. Haverá um bom braseiro em 20 minutos, hora de colocar uns três ou quatro pedaços de madeira para dar gosto e iniciar a assar os aperitivos. Quando estiverem prontos, coloque o resto do carvão do lado do braseiro e boa sorte.

Cuidado que sempre vem um(x) chatx que quer fazer o fogo, diz que usa uma garrafa para fazer um vulcão de carvão, ou explica que usar nacos de vela é infalível, em fim, te aporrinha. Não de aba que ele te toma a churrasqueira e ai vão aparecer outrxs e é bem capaz que fiquem discutindo se a mechas de jornal são melhores que papel higiênico (virgem espero) com azeite. Saiba que tudo dá certo, até o meu vizinho que usa um maçarico consegue e eu nunca vi um churrasco que não saiu porque não pegou fogo - só quando o cunhado esquece do carvão.

Como o fogo sempre pega, o problema é que x(s) chatx(s), além de fazerem uma sujeira danada, ficarem todos encarvoados e depois se limparem com tudo que esteja a vista no teu banheiro, elxs vão atrasar a coisa toda e quando a fome bater, ninguém vai lembrar dxs idiotas que levaram uma hora ou mais para fazer um braseiro…

Voltando, me parece é simpatia, mas eu sempre jogo uma mão de sal grosso no braseiro um pouco antes de pôr a carne. Fazer isto me lembra de um amigo - que infelizmente já se foi - faza a mesma coisa, mas dizia que a carne ficava mais leve. Então, sobre salgar e espetar, faça como quiser, nem vou começar, porque vai parecer a discussão se a cobra mama em vaca. Observe, apenas, que as peças mais finas salgam e secam demais se já forem com o sal para o fogo, assim, é melhor salgá-las um pouco antes de servir. As peças maiores, se forem salgadas bem antes - exceto costela que não faz muita diferença, sei lá porquê - basta controlar o tempo de salga, que não deve passar muito de meia hora por quilo antes de ir ao fogo e lembre de tirar o excesso nesse momento.

Quem prefere, como eu, salgar direto no fogo, só não pode esquecer de selar a carne, ou seja, colocá-la por alguns segundos bem perto do fogo forte (10 cm) e virar todos os lados antes de levantar para assar (15 a 20 cm), isto mantêm a suculência. O sal, vale o que disse antes: peças finas só recebem sal grosso um pouco mais moído (ricos burros usam sal Kosher) perto de servir (medalhões quando já estiverem prontos). Nas peças maiores e mais grossas use só sal grosso em todos os lados quando estiver pela metade do cozimento. Sobre espetar, só uma coisa: se a churrasqueira tiver paredes, coloque a parte mais grossa da carne para o fundo.

O resto? Tá cheio de vídeo na internet e é muito chato ficar escrevendo obviedades e frescuras, mas lembre que a NASA, depois de inventar o travesseiro para astronauta, descobriu que o espeto rotativo é o preferido por quem dorme de meia. Caso tu use esse treco, não me pergunte o que acho, mas saiba de uma coisa: assar pingando a gordura na brasa é diferente de enrolar o fio da gordura na carne. 


É divagando que se chega ao longe


Não há dois churrascos iguais, mas se ficar sempre na mesma churrasqueira e assar sempre da mesma maneira os mesmos cortes, teus churrascos vão ficar parecendo enterro de político - todo mundo vai por outro motivo.

É bom e necessário se aventurar de vez em quando, aqui na Borrússia, quando há vítimas o suficiente, gosto de assar um costelão ou uma banda de borrego inteiro no fogo de chão, é divertido, mas tem que ter preparo físico e determinação. Para além dos modismos, já tentei de tudo contra essa monotonia: assei peixes na telha com folha de bananeira, usei assador a gás, a eletricidade, aquela coisa redonda e esquisita que se põe no bico do fogão, tenho uma churrasqueira sem fumaça (a brasa fica atrás das carnes e não embaixo) que usava para fazer um churrasco na sala do apartamento de Brasília. Na vida por ai, fiz mil churrasqueiras improvisadas de tijolo e sofri muitos tonéis indefectíveis em ruas e praças, sem contar que no Amapá usavam “janse” de carro e na casa dos amigos enfrentei diversos Grills, cada uma mais chique que o outro para fazer hambúrguer e salsichas. Confesso que tenho saudade de um velho Gengis-Kan de ferro fundido que literalmente se desfez e de algumas churrasqueiras de camping que a gente usava na casa da praia.

Sim! Passei muita vergonha: queimei muita carne, ficou duro, salguei, ficou cru (como a cabeça de porco que tentei assar num buraco com o fogo por cima), demorou demais, sei lá, mas todos os fracassos a cerveja sempre conseguiu lavar e nunca deixei de buscar novos desafios. Nos últimos anos me concentrei na busca do churrasco folclórico, o “legítimo” churrasco campeiro, assado no fogo de chão para honrar as tradições gaúchas…

Mitologia para quem precisa de mitologia. Foi rápido que aprendi que o tal fogo de chão é uma estupidez que precisa de um metro cúbico de lenha seca e boa para assar uns 15 kg de carne, mas serviu para desconfiar de onde veio a churrasqueira do papai. Quem se lança no fogo de chão descobre, de cara, que uma pequena vala ajuda muito e mais rápido ainda vai descobrir que revesti-la com pedras diminui a umidade e aumenta a eficiência do braseiro. Logo a dor nas costas e os olhos defumados também vão ensinar que elevar o braseiro a uns 70 cm do chão e protegê-lo do vento são coisas muito boas. Velho, daí para uma churrasqueira é um pulo, mas te lembres da estória do Professor Pardal querer fazer um “pick-nick” e curtir a natureza: formigas o fazem montar um tablado, um chuvisqueiro o convence a erguer um teto e, por fim, o vento frio o faz colocar paredes; pronto, estava numa casa e terminou a sacanagem.
Algo similar deve ter acontecido comigo nesta busca do churrasco radical. Foram tantas as melhorias que fiz no tal fogo de chão inicial, que acabei com uma churrasqueira de pedras, um pouco complexa, é verdade, mas com a vantagem dela estar sempre desmoronando e, assim, se manter em contínua evolução.

Na sua configuração atual ela inclui um espaço maior, ovalado, com quase um metro de comprimento, pouco profundo, forrado e cercado com pedras até um metro de altura, mas com a frente aberta. Nele costumo assar as peças maiores de pé e faço o fogo no chão e nas“paredes” apenas com lenha. A foto noturna é de uma indiada em pleno inverno borrussiano.

Do outro lado, aproveitando uma das paredes, continuei empilhando pedras, mas menores, e fiz uma torrezinha com o centro vazio, em forma coroa e com 20 cm de profundidade e de raio. Nele, faço o fogo para assar com a grelha de canaletas que não gosto muito, de vez em quando uso espetos. A foto seguinte é dele, onde estão assando três pedaços de Entrecot, que costumo acompanhar com um Refosco da Panizzon - que podia ficar bem melhor se estes gringos não economizassem tanto no enólogo.

Confesso que gosto muito de pôr fogo nas pedras e é muito divertido assar neste improviso científico, pois sempre surgem novos desafios como espetar uma grelha em nível, achar a lenha certa, etc.; também as condições nunca se repetem, pois venta demais, ou o vento muda, ou cai um chuvisqueiro e há eventos imprevisíveis como espetos caindo, paredes desmoronando, linguiça que rola da grelha para o fogo, ataque de #gatochato, porém, ocorrem momentos em que eu quero apenas fazer uma carne e tomar cerveja, ao invés de ficar provando para o acaso que sou o seu senhor, então, para não cair na armadilha da monótonia da churrasqueira do papai, decidi fazer uma Parrilla e assar meu bairrismo italo-teuto-gaúcho como avisei antes.


Churrasqueira ou Parrilla? Eis a Questão!


De auxiliar da minha mãe até pôr fogo nas pedras da Borrússia se pode ver que experimentei tudo que pude e no final das contas decidi pela Parrilla porque sou apaixonado por seu funcionamento e pela qualidade e sabor do seu churrasco, ou “assado”.

Tudo começou em 2008, quando meu trabalho incluiu relações exteriores e eu participei da delegação brasileira nas Reuniões Especializadas da Agricultura Familiar do Mercosul. Caso não saibas, a cada ano ocorre uma rodada de reuniões setoriais entre os países que formam o Mercosul, nelas a Secretaria Executiva muda de País e quem a entrega deve organizar o encontro. As rodadas são bem diversificadas e muito produtivas e seis meses antes delas, sempre ocorre uma reunião preparatória na sede do Mercosul, que fica em Montevideo no Uruguay.

Não pense que era mamata, havia muito trabalho e tenho muito orgulho de ter contribuído, além de ser grato com o tanto que que aprendi. Também não ache que rendia um dinheirão, quando muito o hotel e os deslocamentos eram cobertos pelas diárias, uma parte da alimentação sempre se tinha que tirar do bolso. Neste caso, então, por que economizar, ainda mais de noite, quando se podia tomar um vinho nacional?

Como o assunto é outro, não posso aprofundar essas experiências, mas vale a pena centrar o início desta paixão pelas Parrillas no Mercado Del Puerto, onde me convenci da supremacia delas. Tá certo que a carne do Uruguay é muito boa, mas não é só isso, porque assei muita costela do Pull nas churrasqueiras da vida e nunca ficou a mesma coisa.

Quem for a Montevideo, não deve deixar de conhecê-lo, pois como quase tudo naquele País, ele é pequeno, único e muito interessante e há muito artesanato que qualidade nos arredores, além de algum comércio de gêneros alimentares, mas sem dúvida, o Mercado Del Puerto é um monumento vivo à parrilla e ao assado, onde pode ser regado com o melhor Tanat do mundo (Dom Pascual Roble - sempre!) e levar a gente a níveis extremos de bom humor e felicidade.

Sobre as Parrillas propriamente ditas, é interessante notar que é uma palavra com vários significados, pode ser o restaurante que serve o assado, pode ser o próprio assado e também aquilo que conhecemos por grelha e, tal como o Xixo, não se sabe bem qual sua origem. Os castelhanos costumam indicar três possibilidades, embora, claramente, gostem mais da versão folclórica, na qual consta que a parrilla foi inventada por acaso, durante o século XVI, quando um ferreiro chamado Phillipe Ledoux ao errar a quantidade de grades necessárias para cercar o “Château” de um famoso Barão, ficou sabendo não receberia pelo excesso de grades e então decidiu se vingar assando carnes sobre elas na frente do casarão. O cheiro era tão bom que enlouqueceu o tal  Barão e ele resolveu dar os dois ducados que faltavam para ficar com a Parrilla-de-Portão recém inventada.

As outras versões são mais históricas, uma dá conta da invenção da parrilla em 1832, por conta de uma lei de anistia que ensejou a libertação de milhares de presos na Colônia de Sacramento. Eles resolveram destruir o presídio e para comemorar resolveram usar as grades das celas assar carnes e distribuir para a população. A outra reza que pelo final do século XIX, nas imediações do Rio da Prata, era comum usar grades de ferro para tensionar os couros que secavam aguardando a exportação e estas grades acabaram servindo, também, para assar as carnes que sobravam dos animais abatidos.


Ó Dúvida Atroz! Parrilla Uruguaia ou Argentina?



É fácil de encontrar encantadores de burros no Youtube zurrando sobre gastronomia, dentre os mais proeminentes, há uns quantos que discutem as diferenças entre a Parrilla uruguaia e a argentina, mas o fato é que nenhum destes países reivindica um determinado tipo de Parrilla, são eles quem atribuíram os tipos com a prepotência de sempre, ampliada pela ignorância característica da maioria. No fim, tudo se resume ao de sempre: tem um pato me vendo e eu sonho com a monetização, quero vender meu produto e/ou ganhar algum jabá do patrocinador.


"Xis-Tudo"
O que dizem nossos "ex-pertos"? Uma bobagem do tamanho do Riograndeamado: a parrilla feita de barras redondas é uruguaia e as feitas com barras em “V” são as argentinas. Basta buscar por Parrilla no Mercadolibre.com.uy e no Mercadolibre.com.ar para ver como nos dois países há todos os tipos imagináveis de Parrillas (e bem mais baratas que no Brazil), mas o que não dá para aguentar são os idiotas que afirmam haver vantagens nas ditas “argentinas” porque há uma caixinha para acumular a gordura escorrida e se pode pincelar esse caldo nas carnes para melhorar o sabor. Isso já é esculhambação! Primeiro porque não existe grelha 100% limpa depois do primeiro uso, imagina a tal caixinha, depois que o tal escorrimento é salgado demais e dependendo da variedade das carnes, vai dar gosto de “Xis Tudo” no seu assado!


"argentina" e "uruguaia"

Ocorre, apenas, que o mercado argentino é muito mais aberto que o uruguaio e nele existem mais produtos importados (“Grills”) americanos e europeus. Estes produtos de exportação são pensados para a diversidade do mercado internacional e por razões óbvias devem ser bem flexíveis de se usar, logo, uma caraterística importante é fazer menos fumaça o possível. Ironicamente eles copiam os princípios “Char-Broil”, que é um equipamento de cozinha profissional destinado a grelhar carnes em ambientes nos quais faz todo o sentido utilizar canaletas na grelha para evitar que a maior parte da gordura seja vaporizada nas pedras vulcânicas ou na proteção dos queimadores de gás.

Note, também, que a maior parte das Parrillas uruguaias é mais artesanal e há muita vantagem em usar barras na grelha, ao invés de canaletas, pois além de economizar mão de obra, dispensa equipamentos de solda-ponto que são bem caros.

Por outro lado, há algumas diferenças interessantes que podem ser culturais mesmo, por exemplo, as Parrillas argentinas tendem a ter altura fixa e, não raro, possuem dois andares, já as uruguaias, quase sempre, permitem a regulagem da altura, já as argentinas, frequentemente, possuem uma área na grelha onde as divisões são mais próximas e se destina a assar as miudezas e no nosso mercado, vais encontrar mais grelhas isoladas, para uso em churrasqueiras.


Não Vai Cair no Enem


Um assado não é um churrasco e um churrasco grelhado também não é uma parrillada, por mais que os paulistas achem isso. Também não há Parrilla Top do Universo que conserte o resultado de um péssimo assador, então, tenha em mente que existem diferenças muito marcantes entre o churrasco e o assado e a churrasqueira com grelha e a parrilla, respeitá-las ajuda muito:

  • Primeira: na Parrilla não se usa carvão, apenas lenha que é queimada em separado e apenas as brasas são arrastadas para debaixo das carnes.
  • Segunda: em hipótese alguma a carne é furada na Parrilla, por isso se usa grelha e pegadores. Não espete nada em uma Parrilla.
  • Terceiro: na Parrilla se usa preferencialmente peças fracionadas e finas (3 ou 4 cm) de carne e o tempo para assar deve ser o menor possível (15 a 20 minutos). Dá para assar uma ovelha inteira ou um pernil de porco, mas a técnica é diferente da churrasqueira, vai levar bem mais tempo e o assador deve saber controlar o fogo muito bem para produzir muita brasa.
  • Quarta: a carne vai ao fogo sem sal e deve ser selada imediatamente no calor intenso (10 cm das brasas), para só depois ser assada (15 a 25 cm das brasas).
  • Quinta: se salga apenas na hora de servir o assado (o sal parrillero é o mesmo sal grosso, só que moído para médio e com o preço multiplicado por dez).
  • Sexta: na Parrilla se come o boi de dentro para fora, ou seja, primeiro vêm as entranhas (Molleja (timo), Riñones (rins), Chinchulin (intestino delgado), Tripa Gorda (intestino grosso), Morcela Dulce (morcila), depois as carnes e acompanhamentos.
  • Sétima: não se usa farinha no assado, mas ótimos pães e grissinis.
  • Oitava: quem quiser carne bem passada, que vire veganx!


Rosinha, minha Parrilla


Antes de começar a desenhar e especificar o projeto dei uma boa pesquisada no assunto das Parrillas e olhei, real e virtualmente, muitos produtos e projetos, então posso dizer algumas coisas previamente.

Primeiro a desilusão! Tem quem ache que dá para fazer uma micro Parrilla e, pior, que dá para transformar sua churrasqueira numa Parrilla. Desista, vai ficar tipo pato, quase nada, quase caminha, quase voa, quase canta…

A Parrilla precisa de um espaço maior que uma churrasqueira, a para começar há o queimador da lenha, onde se produz o braseiro. Ele não será menor que o volume ocupado por um meio saco de lenha, destes de supermercado, de uns 10 Kg. O mínimo inicial vai determinar o ritmo de produção de brasas e garantir o fornecimento até o fim do assado, por isso é importante começar com alguma folga, desta forma, no mínimo, ele vai requerer um volume de 20 X 35 X 25 cm (L C A) e seus pés devem ter uns 10 cm de altura.

Depois a Parrilla propriamente dita, ou grelha, tem seu tamanho minimo. É recomendável 1 m2 para 40 pessoas, logo, um tamanho bom para algo doméstico e confortável é, pelo menos, um quarto disso. A área mínima para uma Parrilla capaz de suportar o queimador e a grelha, sendo fácil de manejar, terá de ser aproximadamente 70 X 40 cm. Churrasqueiras desse tamanho normalmente serão muito fundas.

A medida da altura da base da Parrilla também deve ser um pouco maior daquela que se emprega nas churrasqueiras, porque na Parrilla as carnes são assadas mais próximas do braseiro. Outra diferença que deve ser pensada é a distribuição das brasas sob a grelha e o atiçamento do fogo, nestes casos é bom que a base seja rasa para facilitar o trabalho e as suas costas vão agradecer se a base não ficar a muito menos de 80 cm de altura do chão.

Outro aspecto importante é sobre a durabilidade. Quem for fazer fazer uma Parrilla móvel como a Rosinha e pretende que dure mais que um verão, é bom revestir todos os metais com tijolos e não deixar o fogo tocar na estrutura, exceto onde for necessário, como no caso do queimador. Neste rumo, decidi usar tijolos refratários na base e tijoletas ou ladrilhos refratários (metade da espessura dos tijolos) nas laterais. O problema, então, virou o peso e creio que se pode usar tijoletas na base também - no futuro farei estes teste.

Na foto abaixo a Parrila está invertida para se ver as barras em "T" que suportam os tijolos, note que a disposição é ao comprido para dar mais resistência para eles. Vi muitas Parrillas ofertadas no mercado sem esta proteção, algumas bem caras até alegam utilizar chapas grossas, mas é balela, pois nenhuma chapa vai resistir o braseiro, a causticidade das cinzas e a oxidação do sal, então, se for pagar uma nota por algo sem revestimento, deprecie em dois anos.

Nas Parrilas que não são fixas e construídas de alvenaria, há o problema da altura das paredes laterais para considerar. Notei que há vários modelos as dispensam, mas acho isso uma burrice perigosa, tanto pelo vento, que além de esfriar as carnes em cima, vai acender demais as brasas embaixo, quanto pela questão de segurança, principalmente se houver crianças bêbadas ao redor…

Quando há paredes, quase sempre elas têm a altura de um tijolo de pé (21 a 25 cm) devee basta, sem dúvida. No meu projeto pensei em fazê-las com dois tijolos e meio de altura nas proximidades do queimador, pois as paredes não ficariam sobre a base, mas encaixadas dos lados e, assim, a altura diminuiria os 5 ou 6 centímetros que é a espessura do tijolo da base, mas acabei fazendo todas as paredes com 20 cm de altura para simplificar a execução.

Podendo, faça uma coifa para exaustão, mas é opcional , principalmente em espaço aberto onde não houver nada acima da Parrilla, pelo menos, a três metros de altura. Nas móveis, pode ser feita uma base em separado onde se encaixa na estrutura da Parrilla (está difícil de ver na foto, mas é assim) e colocar quatro ou duas rodas como fiz.


O Diabo Mora nos Detalhes Construtivos


Para maior simplicidade, durabilidade e custo baixo defini que não houvesse a utilização de chapas (embora seja racional utilizá-las nas paredes) e que o queimador seria feito em ferro redondo de ½” polegada, soldado com eletrodos para ferro fundido. As dimensões mínimas seriam 25 cm de largura, 35 de altura e 40 cm de profundidade, para ser possível utilizar lenha de diferentes tipos e tamanhos.

A base que planejei inicialmente se comporia de apenas 4 x 4 tijolos, assentada sobre um carrinho tubular (30 X 30 m) semi-fixo (duas rodas e dois pés de borracha, as travas foram feitas de tubo 25 X 25 mm). O carrinho foi construído separadamente e suporta a estrutura da Parrilla por encaixes.

Os tijolos da base são assentados sobre barras de ferro "T" de espessura de 2,5 mm (serralheiro) soldadas em uma moldura de barras de ferro "V" (cantoneiras), também de 2,5,mm que suporta as tijoletas das paredes. Toda a estrutura da parrilla foi soldada com processo Mig. O travamento das paredes foi feito com uma barra chata de 1.1/2" por 3/8".

A grelha de barras flutuantes (não soldadas) foi confeccionada decom barras de inox e sua estrutura com tubos galvanizados de 15 X 15 mm. A ideia inicial de tamanho era fazê-la com duas partes articuladas, uma com 400 X 500 mm e a outra com 400 X 150 mm.

Na execução, houve algumas mudanças nas especificações iniciais:

Ampliação da base para 5 X 4 tijolos refratários (depois de pronta fiquei em dúvida se não havia exagerado), desta forma o tamanho final ficou aproximadamente e 562 mm (110 mm X 5 + 2,5 mm X 5) de largura e 840 mm de comprimento. Somadas as paredes, as dimensões externas da base ficaram aproximadamente 592 mm por 895 mm.

A soldagem das barras "T" com as barras "V" das paredes foi por baixo, para maior resistência com o aumento da área de cordão de solda, apenas uma pequena parte da crista interna foi removida de cada lado para permitir o encaixe das tijoleta da parede. Na parte do fundo, a última barra "T" distou 25 mm da barra "V" para encaixar a parede traseira, exigindo que as tijoletas das esquinas internas ficassem maiores uma espessura que as demais, todas cortadas no meio. As barras foram soldadas no sentido do comprimento dos tijolos para que eles fossem suportados aumentandopelos lados maiores, aumentando, assim, a resistência da base a impactos. A espessura das barras "T" da estrutura da base foi 2,5 mm.



Sobre a primeira fila de tijoletas foi montada uma estrutura dupla com barras em "V" que tanto as segurou na parte superior, quanto formou uma base para a segunda fileira das paredes ser encaixada. A solução adotada para esta estrutura foi soldar duas barras "V" (cantoneiras) ao comprido para formar um ”U” onde as tijoletas das três paredes (laterais e fundo) pudessem ser encaixadas.

Como a espessura das tijoletas era aproximadamente 25 mm, foram utilizadas barras em "V" de 1/2" por 1/8" de espessura e de 3/4" por 2,5 mm de espessura, desta forma o vão interno ficou com 25,4 mm. Foram feitas três peças, duas com 600 mm e uma com 900 mm que depois foram ajustadas e cortadas em 90°.

Está primeira estrutura foi duplicada invertendo a posição das barras de 1/2" e 3/4" para ajustar as diferentes espessuras delas antes de soldá-la sobre a primeira estrutura, assim, foi criado um leito plano para a segunda fileira de tijoletas, conforme dito antes. Uma terceira estrutura similar foi construída para dar o acabamento superior na Parrilla e fixada sobre as tijoletas da segunda fileira das laterais e do fundo.

Por último, uma barra de ferro chato de 1.½” por 3/8" de espessura foi soldada ligando estas estruturas pela frente da Parrilla e conferindo rigidez suficiente às paredes. A ideia original de elevar as paredes na volta do queimador foi abandonada por ser dispensável.



O queimador, pensado originalmente apenas soldado, após a dobradura das barras de ½” de aço se demonstrou capaz de receber barras chatas e furadas como reforço, assim foi elevada significativamente a sua resistência.

A grelha foi a ultima peça construída, originalmente teria 400 mm de largura, porém o aproveitamento racional das barras de 6 metros de aço inox (3/16” e ¼” utilizadas intercaladamente) recomendou a largura de 470 mm e para aproveitar o máximo da base da Parrilla, o comprimento deveria ficar perto de 500 mm.

Como a decisão foi construí-la com duas partes articuladas entre si para que pudesse haver uma regulagem de altura, a solução adotada foi construir uma área maior com 470 X 470 mm e ligá-la por um pino articulado a outra menor com 100 X 470 mm. Nesta menor foram soldados quatro pés de 10 mm cada e na maior apenas dois de 150mm, que podem ser apoiados no queimador para elevar a grelha a 250 mm. Os tubos utilizados são de metal galvanizado (15 X 15 mm), perfurados internamente a cada 12 mm para encaixar as barras sem solda - livre expansão pelo calor.

Não fiz uma contabilidade exata do material utilizado, mas, a grosso modo, na base utilizei uma barra de 30 x 30 mm inteira e 1/3 de barra 25 X 25 mm nas travas dos pés (todas com 1,6 mm de espessura), dois com rodízios, dois com pés de borracha. Na estrutura da Parrilla foram empregados 4.750 mm de barra "T" de 3/4" por 2,5 mm de espessura e 3.200 mm de barra "V" de 3/4" por 2,5 mm de espessura. Nas paredes, as estruturas, dupla e simples superior, consumiram 6.750 mm de barra "V" de 1/2" por 1/8" e 6.750 mm de barra "V" de 3/4" por 2,5 mm de espessura. A barra chata da frente de 1.1/2" por 3/8 " de espessura tem aproximadamente 920 mm de comprimento e o queimador utilizou 3/4 de uma barra de 600 mm de 1/2" de espessura. A grelha exigiu duas barras de inox, 3/16” e ¼”, e mais meia barra de tubo 15 X15 mm de 1,9 mm de espessura, todas com 600 mm de comprimento. Na base estão 20 tijolos e nas paredes outras 20 tijoletas.

Difícil estimar o custo, pois demorei muito para terminar porque tive vários problemas durante a execução, mas de material, dá para considerar que foi gasto pelo menos uns 500 reais em metal e mais uns 100 reais em tijolos e consumíveis.






Em Tempo: aceito encomendas!

E na inauguração deu bom!!??




ASSE-SE