quarta-feira, 30 de setembro de 2020

DIY Home Office




Era março, meados de março, a peste avançava e a família decidiu vir toda aqui para Osório e iniciar um distanciamento social, que hoje já dura seis meses e só porque estamos todos de saco cheio, ele não vai acabar. O Brasil é um dos melhores colocados no número de tudo que não presta nesta pandemia e a insanidade mental demonstrada por nós ao lidar com esta doença, do governo ao povão, refutou completamente a ideia de que Deus fosse brasileiro.

Por outro lado, cada vez mais dependemos de um milagre para nos salvar ... afinal, o Presidente demitiu o Ministro da Saúde que era médico,  para empossar um segundo esquizitão que se demitiu um mês e pouco depois, dizendo que tinha uma carreira, e ai colocou um suplente milico no seu lugar para defender o uso da clororquina, quando a dexametasona acumula vitórias no mundo, e insistir na distribuição de um tal kit-covid que têm além do remédio para malária, traz um antibiótico para bactérias e um vermífugo...




O povão, diante de tudo isso, está morrendo e comemorando! Haja Roma para tanto Nero, e sem querer ser pessimista - só não consigo - a um mês atrás as estatísticas oficiais anunciavam mil mortes por dia, um patamar que foi alcançado em meados de maio e permaneceu assim até o início de setembro, e agora há uma onda de otimismo porque só estão morrendo 800 pessoas por dia.

Não há país no mundo (Estados Unidos não são ...) em que tenha havido "picomar" tão duradouro, vários atingiram mil mortes por dia, até bem mais, mas nenhum manteve o genocídio de sua população por mais que uma ou duas semanas antes de fazer a curva cair rumo ao controle. Aqui, abram-se todas as aspas e caspas: Que morra quem tem que morrer!

Esta é a política de enfrentamento e é por isso que falam em multiplicar por quatro os números oficiais. Se ultrapassamos 4,7 milhões de casos agora, provavelmente devemos estar perto 12 milhões, e se já enterramos mais de 140.000 pessoas, deve ter sido meio milhão, incluindo achados mortos e perdidos por síndromes respiratórias, infartos e septicemias que é a causa mortis mais genérica.

Não pode ser? Isso é coisa de comunista, esquerdista irresponsável, feiquinius, etc. Olha, na terra plana a taxa de mortos por recuperados é de 1 para 23, no brazéu oficial é 1 para 29. Apavora, mas tem mais, aqui tem gente contra a vacina porque é contra vacinas, esses idiotas tem no mundo todo, aqui a proporção só parece ser um pouco maior, mas aqui ainda tem uma coisa pior, tem gente também que é contra a vacina se ela for russa ou chinesa. Para essa gente eu recomendo um tratamento intensivo de ozônio, até estourarem, para deixar claro.



Cadernos ou Memórias do Cárcere 


O Lula passou 500 dias preso e esperou sair para escrever suas memórias aprisionadas, que não vou perder tempo lendo, já o Gramisci passou oito anos preso e não esperou saír para escrever obras importantes até hoje, então, inspirado neste exemplo de resistência e força, como ele, não vou esperar terminar a peste para escrever alguma coisa.

Durante estes seis meses minhas mãos sofreram mais com álcool do que meu fígado a vida inteira, pude entrar mascarado no banco, passei um inverno sem me gripar e descobri que se não podemos ver os amigos por força maior, dá uma saudade louca até daqueles que a gente não via a muitos anos, por outro lado, não ter que ver quem não se gosta é um prazer incomensurável.

Moletons devem ser lavados depois de uma semana, isso é importante... mas o foco aqui é sobre o trabalho, então vou por na máquina a roupa fermentada, enquanto uso apenas a roupa suja, e escrever sobre a montagem do home office.


Meu quarto, minha cela


Como disse, em março tudo mudou. Fazia dois anos que eu morava meio sozinho aqui no sítio, pois meu filho tinha ido para Porto Alegre fazer cursinho em 2018 e bem antes minha esposa arrumara um trabalho por lá e estava morando com sua filha, de forma que a gente só se reunia nos finais de semana  alguns. Tinha uma rotina, levantava pelas cinco da manhã, tomava café, comia algo, colocava o Floki e o gato chato para rua e, de carro, ia para a rodoviária pegar o ônibus. Um pouco antes das oito chegava no trabalho e ficava esperando abrir a porta do prédio publico que a ministra venenosa mandara fechar entre os expedientes para economizar luz depois que o chefe dela revogou o horário de verão - vai entender. Pelas 17:40 eu embarcava de volta para Osório e com sorte (quase sempre tinha engarrafamento na saída) antes das 19:00 eu estava dando comida para os bichos em casa, depois era jantar e dar colo para o gato, fazer festa com os pés no Floki e escutar um bom jazz lendo alguma coisa.

Bum, tudo mudou. agora pelas oito ligo o computador, olho e-mails, pego o telefone e confiro WhatsApp, Messenger, Gmail, Telegram e as novidades no FaceBook e no Instagram. Conforme as demandas novas e o saldo irresolvido do dia anterior vou resolvendo a burocracia do dia a dia e vez ou outra há alguma tele reunião. Esquisito são os telefonemas mesmo... Entre as "tasks" convivo em família fazendo um pouco de tudo, especialmente cozinhar, já que alimentar as bestas ficou com meu filho de encarregado.


Em finais de semana e quando sobra algum tempo me dedico a fazer coisas para não enlouquecer, e pode ser cortar o gramado, roçar algum potreiro, arrumar uma cerca ou plantar batatas. Dentre isso tudo, na minha rotina o que estava chato era que u perdera meu escritório para meu filho dormir e estava fazendo tudo no improviso, mas enche o saco e dói as costas trabalhar na mesa da sala ou sentado na cama, com aquelas almofadinhas de computador no colo.

Tinha que arrumar a coisa, então o jeito foi encostar a cama na parede para ganhar um espaço na cela e organizar um espaço de trabalho.


A Pitagórica   


Até um terraplanista sabe que o quadrado da hipotenusa é igual ao quadrado da soma dos catetos, poucos sabem para o que serve e menos ainda, só os melhores dentre os melhores, sabem que serve também para fazer uma mesa.

Quando decidi organizar meu espaço de trabalho não tinha nada em mente, só a sensação de que não dava mais para trabalhar onde se come e por isso me pareceu um bom começo fazer uma mesa de trabalho, então como o plágio é o pai da inspiração, fui olhar o Pinterest se alguma coisa que me agradasse fosse BBB: boa, bonita e "bemsimples". 

Semanas de pesquisa intensa e apareceu uma foto de uma menina numa mesa que me chamou a atenção, então procurei mais algumas fotos dela (a mesa!) e sentei para fazer o projeto, o que normalmente sai pelo SkechUp, mas desta vez, como também era terapia, fui para a prancheta empoeirada e desenhei minha primeira versão-cópia.

Nesta fase do projeto não me preocupei em saber as dimensões da mesa original, nem detalhes de funcionamento, na verdade fiquei só nas fotos e na imaginação, afinal, era BBB e eu sou engenheiro...

Tão pouco finalizei o projeto, ficou nesse esboço mesmo, sem solução a articulação do tampo, nem suas graduações e acabamento. Depois, claro, sofri um pouco com isso e alguns ajustes forçados foram necessários, mas foi possível especificar o que precisava de material e o importante é que emoções eu vivi...


Terapia é que nem coceira, é só começar... 


Primeiro a madeira! O Pinus tem muitos nós e fica fraco, o Eucalipto entorta muito, fazer de compensado naval daria um "look" modernoso demais, Cedrinho muito escura... Lembrei do Fábio, meu vizinho artesão artístico que já falei aqui algumas vezes. Ele havia me oferecido uma ponta de Pau Marfim que comprara anos atrás e que estava encalhada, pois ninguém procurava madeira clara, justamente o que eu queria.

Fui lá e encomendei as peças conforme o projeto, com alguma sobrinha e ajustes conforme as peças brutas. Esse é um lado bom de não fechar com muitos detalhes um projeto, que também é um protótipo, mas há um risco de se mudar tanto que acaba naquela estória da faca que quebrou o cabo e perdeu a lâmina.

A sorte ajudou, o projeto se ajustou bem nas madeiras brutas e apenas o tampo foi um pequeno problema, pois não havia tábuas, só caibros curtos e os mais largos com um pouco mais de 20 cm, assim ou faria um monte de serragem jogando dinheiro fora, ou o tampo ficaria muito pesado espesso com mais de 4 cm. A solução foi ele quem deu, desdobrar as peças mais largas no meio e como seriam finas, o tampo além de colado nas juntas também seria colado sobre uma base de compensado. Fiz isto, mas ao invés do compensado, preferi usar o resto de um armário que resgatara a vários anos da desocupação da casa foi da minha Vó, mas esta é uma outra estória.

Se alguém se interessar pelo projeto (ou quiser encomendar uma igual...), usei no tampo três peças de Pau Marfim de 20 cm X 117 cm x 1,5 cm coladas e pinadas sobre tábuas reaproveitadas de um roupeiro antigo que foi da minha Avó, o Fábio acha que são de Açoita Cavalo. Elas foram cortadas maiores por segurança e por isso tive que voltar no Fábio para esquadrejar  forma final, mas se tivesse usado um compensado, o teria encomendado alguns milímetros menor na loja e usaria ele de molde para emparelhar tudo com a Tupia usando uma fresa reta rolamentada em baixo.


A estrutura da mesa é simples: dois triângulos e uma barra. A princípio ia montá-los apoiando a hipotenusa sobre o cateto maior como na mesa do modelo, mas errei no corte e fiz ela apoiada na frente dele, como ficou horrível resolvi arredondar os topos. Os triângulos, desta forma, ficaram com a altura de 115 cm (cateto maior), a frete  inclinada com 122 cm (hipotenusa) e a base com 55 cm (cateto menor) dos quais 17,5 cm (8 + 9,5) são a altura das outras peças. Os tamanhos dos caibros antes dos cortes foram aproximadamente 130 cm X 8 cm X 4 cm, 120 cm X 8 cm  4 cm e 45 cm X 8 cm X 4 cm, os excessos foram cortados em ângulo na Tico-Tico, mas ante, as peças tiveram espigas e furos para os encaixes feitos nas suas extremidades, o que deu um bom trabalho, principalmente para furar no lugar certo quando há ângulos envolvidos.

A barra que dá sustentação em toda a estrutura ficou com 127 cm X 8 cm X 4 cm, pois em cada ponta há uma espiga de 3 cm que foi encaixada e colada em furos feitos nas laterais dos triângulos, por isso seu vão ficou com 121 cm, suficiente para encaixar o tampo de 120 cm de largura com uma pequena folga.

Sim, mas o tampo não tem 117 cm? Calma, como eu disse, ele foi feito colando duas camadas de tábuas, então para não ficar aparecendo estas junções feias nas laterais e na frente do tampo foram colados e pinados sarrafos de 3 cm de largura por 1,5 cm de espessura. Na parte de trás não, ali foi fixada com pinos uma tábua de 120 cm X!) cm X 1,5 cm que se sobrepôs a estrutura dos nichos.

Nichos? Sim, na foto de cima já é possível ver eles cortados no tampo. Eles são o resultado de dois desafios que tinham que ser resolvidos: como articular o tampo de forma que a mesa ficasse rígida e como evitar uma gaveta, já que era para pode inclinar o tampo como uma mesa de desenho.

Para articular a mesa ou usava uma barra, ou munhões nas laterais. Por sorte achei no comércio chapinhas furadas que já vinham com uma porca M10 soldada, então decidi pelos munhões: usei dois parafusos Allen de 12 cm de comprimento atarraxados nas placas aparafusadas em tacos de madeira fixados sob o tampo em cada lateral. Os tacos foram feitos das pontas que sobraram da montagem dos triângulos e foram colados e fixados com parafusos franceses transpassantes em nichos escariados no tampo para esconder suas cabeças com tapa furos de madeira.

Os munhões se apoiam em furos abertos nos triângulos laterais, desta forma a mesa pode ser nivelada em 65 cm (criança) ou  70 cm (adulto) e ainda ter o tampo inclinado confortavelmente (5°) a 85 cm ou servir para desenho em inclinações acima de 15° (95 cm).

Os nichos são feitos com uma chapa de compensado fixada em três triângulos sob o tampo, um de cada lado, fixados nos tacos dos munhões, e um no centro para dar mais rigidez. Eles são acessados por cima, abrindo-se as duas tampas fixadas sobre o tampo. Nele fica uma régua energizada para o telefone, a luz e o computador. A opção por um triângulo foi para deixar o fundo do nicho inclinado contra o tampo mesmo quando este não está nivelado.





O Plágio que não deu certo


É verdade,  comecei sem muita vergonha mesmo, a ideia era copiar a mesa daquela foto, ocorreu que fui errando e improvisando tanto que no fim o plágio virou inspiração.

Primeiro, por acaso, eu projetei para um adulto, prevendo um uso infantil eventual, já mesa que serviu de modelo, descobri bem depois, é de uma empresa alemã especialista em artigos para crianças, inclusive móveis e se chama Habermaaß & Co., ou Haba - fica em Bad Rodach, na Baviera.

A mesa da Haba faz parte de uma série de design denominada Anderson e possui medidas bem diferentes: 136 cm de largura e alturas de 52 cm até 72 cm, além de custar uns 600 euros, ou seja, uns quatro mil reais... 


Já a minha não passou dos 450 reais - sem considerar a mão de obra, porque foi terapia - e possui medidas e ajustes bem diferentes, além de não fixar o tampo por baixo, com uma estrutura de metal, mas por cima, com cabos de aço revestidos que passam por dois furos no tampo. Eles são fixados em ganchos nos triângulos e permitem o ajuste fino da inclinação da mesa pro meio de esticadores em uma das pontas. Eis um sistema original e barato, muito mais estilo pós-industrial que lúdico e ainda com muito mais funcionalidade.

Reconheço que o sistema de articulação do tampo é mais parecido, porém só no princípio, já que as soluções são completamente diferentes e ainda há uma grande diferença: no meu projeto o tampo fica na vertical facilmente, basta desengatar os cabos, com isto a mesa pode ser guardada em um vão de 55 cm, facilitar a limpeza ou liberar espaço no home office.

A mesa da Haba tem como opcional um gavetão e a minha um nicho interno acessado por tampas que não derrama tudo se o tampo for inclinado, além disso não é opcional, porque é uma coisa importante.

Igual mesmo são as linhas triangulares, a infraestrutura e as duas barras de metal suspensas, que ainda não instalei na minha e por isso não aparecem nas fotos.


E para sentar, não vai nada?


E no sétimo dia ele descansou.

Como? Não tinha cadeira e sequestrar uma da sala ia rolar.

Solução:  restaurar uma cadeira que também veio da casa que foi da minha avó e estava atirada no fundo do galpão. 

Ela estava sem assento e com uma tinta a óleo velha e suja, faltava um reforço de uma perna e estava meio guenza. A coitada está no estado original na foto abaixo. 



Solução, esmeriladeira com escova de aço e muita lixa em toda a cadeira, assim arranca atinta velha e já dá um acabamento razoável, depois foi lixar fino com a mão.




Para finalizar, encher o saco do Fábio novamente para conseguir um pedaço de compensado para o assento e fazer o reforço da perna que estava perdido, mas depois de colocar ele achei que ainda estava tudo meio frouxo demais, então ainda coloquei um parafuso longo por dentro de cada lateral de perna, tomando o cuidado de rebaixá-los e escondê-los com tapa furos de madeira iguais da mesa.

Pintei com verniz PU Majestic da Renner, não é propaganda, é dica mesmo, eu gosto muito deste produo, ele é monocomponente, não requer selador e seca bem rápido, além de ser para assoalho, logo não risca fácil. Só faltava o assento, que encomendei numa estofaria tradicional aqui de Osório chamada Gamba.




TRABALHE-SE


segunda-feira, 27 de abril de 2020

Um pão nosso a cada dia




Um pão que chia 





Faço pães a alguns anos, nada sistemático, acho que até meio caótico. Agora, é um bom desafio, porque excetuando aqueles que pegaram fogo, uma minoria absoluta e em boa parte por culpa dos vinhos, todos os demais foram consumidos: sucessos em poucos minutos, fracassos em dois ou três dias.

Nestes tempos de isolamento o número de padeirxs caseirxs anda rivalizando com a produção pornográfica deste segmento doméstico, em que pese ainda não ter visto nada que juntasse isso aí no tocante, talkey. Espero não estar dando ideias, menos ainda inspiração, afinal, já tem abusados fazendo bread lives...

Bom, voltando ao tema, do Pão (!). Minha intensão não é discutir o infinito de possibilidades padeirísticas, há muitos livros e vídeos para isso, alguns amigos também compartilham ótimas receitas por aí e basta querer encontrar.

Interessa, espero, mostrar uma forma antiga e especial de fazer pão, que possui um sabor inigualável aliada a algo realmente útil: como fazer UM PÃO NOSSO!

Isso mesmo, porque há pouquíssimas receitas para se fazer um pão apenas, um único e certeiro pão! Pense bem se dez em nove receitas não ensinam a fazer massa para dois, três ou mais pães, e tu já caiu varias vezes na quela de ajustar a receita e acabar fazendo um pão tão grande que fica velho antes do fim, não assa direito, a farinha acaba com a massa mole, etc.

E mais! Fazer UM PÃO que caiba em um forninho minúsculo, destes elétricos de 100 reais (o meu custou isso ano passado). Falo isso porque já assei pães em tudo que foi forno e de muitas maneiras, mas o único desafio real que encontrei (além de achar a temperatura correta do forno de barro) é dominar estes fornos elétricos baratos, nos quais além de não caber quase nada, ainda não esquentam bem nem na quantidade de calor por falta de isolamento, nem na homogeneidade pelas duas ou três resistências.

A mãe azeda


Pão de Sourdough e manteiga artesanal.
Então vamos lá! Primeiro o Sourdough!

Calma, não é pão disso não, Sourdough é o que se conhece por aqui como massa mãe, mas infelizmente é muito raro ser usada, talvez porque vicie que nem crack.

Se fores místico, holístico, ocultista, alquimista, esquisito, etc., comece ela com um figo orgânico, posto para secar na sua cozinha (época do ano, palavras mágicas, luz da lua ficam a teu critério...) e use seu mofo como fermento. 

No presente caso ai do lado, fui mais objetivo, usei um pacote de fermento comercial (creia, tanto faz se é vivo ou em pó) dissolvido em um copo de água posto dentro de um vidro grande (usei um de chucrute) no qual se adiciona outro copo de farinha e se completa com água quase até a borda. Misture tudo e deixe uma noite (pode falar umas palavras mágicas, benzer, por no orvalho, no luar...).

No outro dia é só colocar no refrigerador (se colocar no freezer, jogue fora depois) com tampa, sem apertar muito e esquecer por uma semana no mínimo. Quando lembrar, coloque um pouco mais de farinha e misture novamente. É importante trazer o que está no fundo para cima e daí para a frente, mais um dia e já pode ir usando. Essa massa vai viver  para sempre na tua geladeira (sou antigo), na verdade poderá viver mais que tu, então pense em colocar ela no testamento.

Mas para que serve?


Antigamente, quando a vida era mais séria, não tinha fermento para vender. Padarias e famílias guardavam o seu fermento por gerações e ainda há umas poucas que fazem isso - faz um tempo li um artigo sobre uma padaria de São paulo que perpetuara um fermento vindo da Europa na imigração.

A massa mãe, ou azeda, é isso e conta a lenda que "pilgrins" americanos trouxeram seus fermentos da Europa em sacos guardados dentro da roupa, onde cuspiam para manter a umidade ... Bom, quem disse que eram só as salsichas e as leis que não se devia saber como eram feitas, não sabia fazer pão de massa azeda...

Talvez estejas tentado, mas realmente não precisa cuspir dentro do pote, ok! Apenas guarde na geladeira e na medida do uso, vá repondo a farinha, Se não usar por muito tempo, renove, pondo fora um terço e adicionando farinha nova e mais água. Sim, ia esquecendo! É que eu moro na Borrússia e não uso água clorada, mas é importante fazer o Sourdough com água mineral! Os fungos, por razões óbvias não gostam de cloro.

Um Pão Por Vez


Dissolver o Sourdough e a metade da farinha
Então vamos ao processo. Note que a farinha nacional aceita no máximo 60% de hidratação, ou seja, para cada 100 g de farinha não adicione muito mais que 60 ml de água (1 ml = 1g, 1 l = 1 kg).

Como não quero amassar com as mãos para deixar tudo mais tranquilo, até porque aquele negócio de 15 minutos é uma baita mentira, só usarei a batedeira simples que tenho, de liquidação mesmo, mas atente para os misturadores, se a tua não tiver ganchos, só aqueles batedores de bolo, esquece, não é para pão e vai ter que ser na mão mesmo.

Então a primeira coisa é dissolver o Sourdough na água (de novo, use mineral). A meta é um pão de 400 gramas, então coloque 200 ml de água e uma colher de sopa de Sourdough, não muito cheia, como na foto do lado, se usar muito vai ter um pão tipo IPA, com IBU acima de 30...

Mexa até dissolver grosseiramente, adicione duas colheres de sopa de açúcar (se usar mascavo o pão vai parecer integral) e outra, mas bem rasa, de fermento seco, isso vai adiantar o processo e conseguirás terminar em um dia. Depois de tudo dissolvido, misture 200 g de farinha - eu uso um copo de medida, mas quem tiver TOC, fique a vontade para usar balança - e ligue a batedeira por uns minutos até ficar tudo mais ou menos homogêneo. Da qui para a frente é com os bichinhos, deixe eles trabalhando umas horas.

Quantas? Normalmente eu esqueço e depois lembro no meio do filme. Quanto mais tempo, mais forte fica o gosto dos flavinóides no pão, só a sua experiência vai poder ajustar ao seu gosto. Importante deixar coberto e num local, se não quente, pelo menos não gelado.

Flávi o que?


Olha, se tu é terraplanista, esquece, mas se acreditas que algumas coisas podem ser explicadas cientificamente, sugiro ler o livro "Um Cientista na Cozinha" do Hervé This.

Finaleira Final


Bom, os ansiosos deixaram fermentar umas quatro horas, quem seguiu minha técnica amnésica deixou quase o dobro disso. Deve estar como na foto acima: uma massa levemente amarelada e fofa, cheia de bolinhas e com um cheiro leve de cerveja. É que o fermento dela é bem parecido, na verdade são parentes mesmo.

Ligue a batedeira e após bater um pouco, adicione uma colher de sopa rasa de sal (mínimo), sete ou oito de óleo (de milho é mais neutro, oliva da outro sabor) e aos poucos, mais 200 g de farinha. Bata mais uns cinco minutos e ainda se estiver grudando muito no fundo e nas paredes, adicione mais um pouco de farinha até ficar soltando um pouco mais fácil, Durante o bater eu ajudo com uma espátula de madeira e assim sei melhor se está soltando do fundo ou não para ajustar a farinha extra. Mais dez ou quinze minutos e estará pronto. Vai forçar a batedeira mesmo, ela tem que ser um pouquinho guerreira.

Massa sovada em ponto de bum-bum de nenê
Alguém astuto viu que a hidratação ficou perto de 50%, é por causa da batedeira, na mão teria que pôr menos água ou mais farinha, enquanto fosse sovando até dar o ponto de bum-bum de nenê que se vê na foto do lado. Sem conotações criminosas, por favor, é que fica parecido mesmo, na textura e na superfície com leve "celulite". A sova pronta está registrada na foto.

Segunda Fermentação


Agora é esperar dobrar de tamanho e para facilitar eu já deixo na forma mesmo. Tem que ainda reamasse e deixe crescer novamente, isso espalha melhor o fermento e deixa as cadeias de glúten mais estruturadas, resultando (as vezes) naqueles pães de foto, bem fermentados, mas isso só vale a pena se a farinha for importada.

Como a ideia é um pão o mais simples possível, sugiro untar uma forma de pão, enfarinhar (pode ser com farinha fina de milho) e deixar a massa crescer dentro dela mesmo. Inclusive eu faço isso dentro do forno, ligado quase no mínimo da força e pelo máximo que o timer permita. Assim se adianta um pouco as coisas e protege o pão dos eventos fortuitos. Não é raro, quando faço de tarde, esqueço e acaba ficando a noite toda, de manhã é assar e comer.
Uma dica importante! Nestes forninhos a assadeira fica muito próxima das resistências, então deixe o mais longe o possível das superiores e para não queimar nas de baixo, use uma pedra de pizza (a minha veio junto com o forno) ou uma tampa de panela de ferro, ou algo refratário embaixo da forma.

Facilita assar se forem feitos uns cortes na parte de cima, assim ele além de crescer um pouco mais, aumenta a superfície que recebe o calor.

Para assar eu ligo por 35 minutos no máximo e o resultado é o da foto lá de cima, com a manteiga que encomendo da Rede de Orgânicos de Osório.

Ai que nojo, manteiga sem fiscalização..


Olha, se tem algo que me apavora é a intromissão do estado na vida das pessoas, e principalmente dos agricultores familiares. É um absurdo ser proibida a comercialização de produtos animais diretamente nas propriedades. Não estou defendendo vender em feiras e no comércio esses produtos sem fiscalização, estou defendendo APENAS!!! o direito de uma família agricultora vender na porteira do seu sitio ou para seus vizinhos (o meu caso) os produtos que também consome na sua mesa.

É incrível, mas pela legislação eu não posso vender nem mel na frente da minha casa, o tratamento é de traficante! Por isso está mais fácil comprar drogas que um queijo colonial neste País. Parabéns aos envolvidos, se algum deputado com dois neurônios ler isso, talvez se desafie a propor uma leizinha só que seja para não atrapalhar que está quieto. Agora, a chance disso é pequena, afinal, nem esses quadriciclos eles conseguem permitir que se use trabalhar.

Mas e o pão que chia lá da foto?


Tudo igual, só adicionei na segunda fermentação, além das 200 g de farinha, mais um ovo e 150 g de farinha semi-integral com Chia (já vem pronta, mas use a que quiser). Este pão eu esqueci e teve que ficar a noite toda fermentando na forma dentro do forninho, mas de manhã foi lembrar e assar por uns minutos mais (40 eu acho).

Antes do fim!


Este post é para a Neide e o Lucatti, que estão lutando contra está doença vil lá no Norte e sei que vão vencer! É pelo que rezo.

Fermente-se!